segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pontinho de caneta azul no dedinho

Semana passada liguei pro meu melhor amigo e o convidei para um cinema. A gente não se falava desde o ano novo, quando brigamos e tudo deu errado pro nosso lado.

De tempos em tempos sumimos e somos muito bons nisso, na última vez falamos umas coisas horríveis um pro outro, coisa de quem se conhece demais.

Ele topou o cinema, desde que fosse daqui pra frente, ficou com preguiça de conversar da briga e tal.

E fomos. Cheguei antes, comprei os ingressos. Ele chegou depois, comprou refrigerante e pipoca. Porque eu comprei os ingressos, ele comprou também uns doces e disse que daria a carona da volta.

E com meu coração tão calmo eu voltei a sentir o soninho da rede de casa com lençol que sinto ao lado dele.

A gente não se beija nem nada, mas quando fui ver pegamos na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe.

Já tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente, afinal éramos adolescentes, quer dizer, iniciando fase adulta.  Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar.

Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala "ah, enjoei, ela era meio sem assunto" e olha pra mim com ar de saudade.

Ele também ri quando eu digo "ah, ele não entendeu nada" e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai, mas sempre volta.

Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia. Somos praticamente irmãos. Somos pra sempre.

Ele conta do livro que está escrevendo, eu da viagem. Contar e sem pressa de acabar.

Se ele me corta é como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. É um exibicionismo orgânico, como se meu silêncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa.

Crescemos juntos. É isso. Ele me viu de cabelo curto, tipo chanel, loira, morena, ruiva.

Eu lembro dele na adolescência, gordinho e mais baixo.

Ele comprou meu teste de gravidez, mesmo a suspeita não sendo nossa.

Eu já fui bem bonita numa festa só porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex-mulher.

Conversamos muito sobre o amor.

E durante uma dessas conversas, cheguei a conclusão que a minha maior tristeza é que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tão longo e bonito.

E eu sofro porque com pouco tempo não consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo é melhor dos amores.

O único que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo.
Mas, o amor que sinto é diferente. É  maior que amizade e menor que paixão. É amor de irmão - até rimou, rs-.

Sempre acabamos suspirando aliviados e nos perguntando: "alguém é bobo como eu?" e mais uma vez rimos da piada que inventamos.

E esse é meu presente dessa fase tão terrível de gente indo embora.
Quem tem que ficar, fica.

Ontem à noite ele pintou um pontinho de caneta azul no meu dedinho. Isso foi a coisa mais sexual que me aconteceu nos últimos 4 meses. Sim. Um pontinho de caneta azul no dedinho.

Meu coração disparou e meu dedão do pé direito tentou estalar mesmo com a sapatilha apertada. Um pontinho de caneta azul no dedinho.

Hoje ele me beliscou com força na bochecha. Eu devolvi a "gentileza" com um beliscão no braço.

Nos olhamos e rimos. Coisa de criança eu sei.

E sem sabermos, essa foi nossa despedida.
Ele morando atualmente em Sidney e eu aqui em Manaus.


Provavelmente não nos veremos tão cedo mas, o nosso amor fraternal é eterno.

Saudades "piu".






[Ouvindo: Foo Fighters - Times like theses]

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